domingo, 12 de junho de 2011

Dia dos Namorados

Como nossa estreia foi nesse dia tão especial, resolvemos fazer essa fic especial. Esperamos que vocês gostem!

Eu nunca criei expectativas sobre o Dia dos Namorados. Só que dessa vez havia um garoto. E que garoto! Ele era alto, bonito, quase um deus grego. Era um palmo mais alto do que eu, tinha os cabelos cor de chocolate tão sedosos que davam vontade de ficar passando a mão e um físico que, meu Deus, todas as garotas babavam. O único problema eram os olhos. Não que os olhos não fossem completamente lindos, porque eles eram; castanhos claro de uma tonalidade que eu nunca havia visto, e alguns dias pareciam até meio esverdeados. O grande problema é que eles não eram voltados para mim. Eu era apenas a amiga que ele nunca iria gostar de verdade, pela qual ele nunca iria se interessar.

Mas, apesar de saber tudo isso, eu havia feito chocolate para ele. Passei a semana inteira tentando aprender a fazer algo bom ou pelo menos comestível, usando os livros de receitas chatos da minha mãe, e mesmo com todas as tentativas fracassadas estava determinada a entregar algo para ele. E foi com essa idéia cimentada em minha mente, teimosa como eu era, que eu saí da minha casa naquele domingo, para lhe fazer uma surpresa, entregando os sentimentos que eu vinha guardando e cultivando há tanto tempo.

O dia estava chegando ao fim e a coragem com que atravessei a porta de casa ia aos poucos também se extinguindo. Então, nas proximidades da minha meta - a casa dele - eu parei para olhar a vitrine de uma loja de bijuterias. Um pingente em forma de coração, prateado, que possuía em seu interior outro coração de brilhantes, me chamou a atenção. Fiquei me imaginando, com os olhos cheios de lágrimas e o coração a mil, ganhando aquele colar no Dia dos Namorados do menino que eu amo. A sensação das mãos grandes e quentes dele colocando-o no meu pescoço. Eu sabia que isso nunca aconteceria. Mas não conseguia me conformar.

Após algum tempo eu resolvi retomar minha jornada, decidida de que, se eu fosse rejeitada, pelo menos ele saberia dos meus sentimentos e eu então poderia buscar uma nova paixão. Uma decisão que eu tinha certeza ser mais fácil na teoria do que na prática. Mas todo o plano e expectativas escorreram como as lágrimas que teimavam em cair por minhas bochechas quando eu cheguei à casa dele e descobri que ele tinha acabado de sair. Segundo a sua mãe, para comprar presentes para a namorada.

Com as lágrimas caindo e o nariz vermelho, eu não tive coragem de voltar para casa, para ter que encarar o interrogatório dos meus irmãos. Afinal, apesar de sempre pegarem no meu pé, eles não iriam deixar que a sua irmã, que tinha passado a semana inteira fazendo chocolates, chegasse em casa chorando. Além disso, eles provavelmente iriam bater no responsável, pelo o que eu bem conhecia deles. E eu não queria que isso acontecesse, apesar da dor que me assolava. Portanto, eu resolvi ir para um parque ali perto.

Não tinha sido exatamente a melhor ideia. Vários casais passavam por lá, felizes da vida com seus amados, e eu sofrendo feito uma condenada. Resolvi então afogar minhas mágoas no chocolate que eu tão carinhosamente havia feito para demonstrar meu amor, e descobri que afinal eles nem estavam tão ruins.

Depois do que me pareceram décadas, com o rosto encharcado a ponto de parecer que eu iria ficar desidratada, as lágrimas finalmente secaram. Senti uma calma inesperada me invadir e tomei a decisão que parecia ser a mais correta naquele momento. O melhor jeito era ignorar o que eu sentia e continuar como amiga dele. Se eu não conseguisse manter a proximidade, eu me afastaria. Eu não podia deixar isso me abalar dessa maneira.

Apesar de não querer aceitar a ideia, tomei o caminho de casa. Lá eu poderia me esconder do mundo e me preparar para o próximo dia. No entanto, os pensamentos que eu tentava colocar em ordem se embaralharam novamente com o que eu encontrei na frente da minha casa: ele, segurando um lindo balão de coração em uma mão e um embrulho na outra. As lágrimas voltaram a jorrar de meus olhos, sem que eu pudesse controlar. Eu não podia acreditar que teria que presenciar o encontro dele com aquela que eu, apesar de todo o esforço contrário, mais odiava e invejava. Eu tentei dar meia volta e fingir que não era eu, mas a sorte devia estar se divertindo às minhas custas, porque ele gritou e veio correndo atrás de mim.

Obviamente ele percebeu que eu estava chorando. Com aqueles os olhos carinhosos e cheios de preocupação, enxugando minhas lágrimas com aquelas mãos macias, ele me perguntou o que havia acontecido. E eu, apesar de relutante, com o pouco que ainda me restava de orgulho e amor próprio, porque o resto havia sido jogado no chão, pisado por uma manada de elefantes, queimado e depois jogado fora, respondi que não era nada, e que ele tinha que ir atrás da namorada dele para entregar aqueles presentes ao invés de perder o tempo dele com uma garota mal-amada que ia passar o resto do dia dos namorados chorando, abraçada a si mesma com um pote enorme de sorvete de chocolate do lado. Só que, é lógico, eu não disse, apesar do jorro que foram minhas palavras, a última parte exatamente desse jeito. Digamos que eu ocultei a parte da auto-piedade.

E inesperadamente, ele não fez o que uma pessoa normal faria, ele é bom demais para isso. Ele não me abraçou como um amigo faria, dizendo que tudo ia ficar bem. Ele riu da minha cara! Já não era ruim o bastante o que estava me acontecendo, ele riu descontroladamente de mim. Como ele podia ser tão cruel?

Eu ia sair dali, mas ele me segurou pelo braço e disse que não iria encontrar a namorada dele, porque ele não tinha uma. Eu o encarei com um misto de raiva e alívio, não entendo mais nada. Ele abriu um sorriso torto e disse que já havia encontrado a garota e não ia aceitar um não. E eu tenho que admitir, que eu odiei ainda mais essa menina, por ela o ter rejeitado. E aí, ele disse que não pôde entregar os presentes para ela porque quando ele ia fazer isso ela apareceu chorando na sua frente.

E bem, o que eu posso dizer? Aí a ficha caiu. E eu não vou dizer que eu parei de chorar e comecei a dar pulinhos de alegria, porque eu não fiz isso. Eu comecei a chorar ainda mais e perguntei, como uma completa idiota, o que ele queria dizer. E ele abriu um sorriso maior ainda e simplesmente disse, para não deixar margem a dúvidas: “Eu te amo”. Eu, por um instante, fiquei sem reação e sem pensar pulei em seu pescoço e o beijei com tudo, adorando aquele Dia dos Namorados que tinha parecido um fracasso.


Criada por Anne e editada por Suzzy